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quarta-feira, 30 de março de 2011

Petróleo, Guerra e Revolução

As big oil exigiram do Conselho de Segurança da ONU a intervenção na líbia

Por Dalton Santos e Américo Gomes
Por trás das desculpas humanitárias do imperialismo para sua intervenção militar aérea na Líbia estão os interesses das Big Oil (grandes multinacionais do petróleo) e seus lucros e dos governos patrocinadores da intervenção.

O verdadeiro objetivo da intervenção militar visa estabilizar a situação na Líbia, que esta totalmente fora de controle, com seu principal agente, Muamar Kadafi, não conseguindo controlar os rebeldes.
Um segundo objetivo é tentar impedir que a Revolução Árabe gere novas ondas na região do Mediterrâneo, com mais levantes na Tunísia, Egito e Argélia; se fortaleça na Jordânia e Síria; e seja vitoriosa no Oriente Médio, no Iêmen e no Bahrein; e chegue a Arábia Saudita. Principal produtor e fornecedor de petróleo da região.


GARANTIR O FORNECIMENTO DE PETROLEO
A Líbia possui as maiores reservas de petróleo em África. Teve reservas provadas de petróleo de 46,4 bilhões de barris em janeiro de 2011 ou 3,7% da reserva provada no mundo. Da reserva remanescente do mundo, a Líbia tem 7,9% e do ainda para descobrir, 19%, segundo a Libyan National Oil Company.

A maioria de petróleo e gás da Líbia se encontra em terra geológica da Bacia de Sirte. A perda de dezesseis (16) campos de petróleo gigantes, localizados na bacia de Sirte, na Líbia, foi o que motivou a decisão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, e servem para estimular os governos da França, Inglaterra e Estados Unidos a bombardear a nação Líbia.

No oriente os campos Samah, Beida e Raguba. No centro-norte do país, os campos gigantes da Defa-Waha e Nasser e o campo de gás Hateiba. No leste Sarir e Amal, ambos com reservas de mais de 4 bilhões de barris de petróleo.

A Líbia tem cinco refinarias nacionais, com uma capacidade nominal combinada de cerca de 380 mil bbl/d, significativamente maior do que o volume de consumo de petróleo nacional (227 mil bbl/d). E ficam nas cidades ocupadas pelos rebeldes ou que estão em conflito como: Las Ranuf, essencialmente para exportação; Az Zawiya, localizada na Líbia noroeste; Tobruk; Brega, a mais antiga refinaria na Líbia, e que foi recentemente retomada pelos rebeldes; e Sarir.

O imperialismo, particularmente o europeu, para amenizar sua crise está buscando uma atualização completa de seu sistema de refino da Líbia com o objetivo de aumentar a produção. Planeja construir uma refinaria de 20 mil barris p/d em Sebha para processar petróleo de Murz.

Com isso levar a produção a 3 milhões de barris diários (mbd) em 2013. O país quase duplicou suas exportações de gás natural em três anos, de 5,4 bilhões de m3 em 2005 a mais de 10 bilhões de m3 anuais. 

Kadhafi: um aliado que ficou incômodo - Depois que Kadafi iniciou a reaproximação com o imperialismo, se responsabilizando pelo atentado na Escócia e pagando uma indenização milionária às famílias das vítimas em 2003 as Nações Unidas suspenderam as sanções.

Em de 2006, os EUA removeram a Líbia de sua lista de estados que patrocinam o terrorismo. E Kadafi limpou o caminho para as empresas de petróleo dos EUA para explorar petróleo líbio. O país se abriu ao capital internacional com uma série de reformas para liberalizar a economia e consequentemente com numerosos contratos com empresas multinacionais.

Entraram lá as norte-americanas: Amerada Hess, ChevronTexaco e Occidental Petroleum; as canadenses Canadian Occidental, PetroCanada, Mar Vermelho Corp; a espanhola Repsol; a inglesa/holandesa Shell e a BP; e a francesa Total. Além disso, a estatal Líbia National Oil Corporation (NOC), realizou "joint venture" com as norte-americanas ConocoPhillips, Marahton e Hess.

Exatamente os paises que apóiam a intervenção militar, para evitar que tenham prejuízos em suas empresas. Todos antigos aliados de Kadafi.

Por exemplo, a furiosa Inglaterra de David Cameron que chamou de "brutal opressão” a realizada por Kadafi, e de que era “completamente chocante e inaceitável", em 2004, com Tony Blair assinou o “Acordo no Deserto”, (Desert Deal).

Com ele a Grã-Bretanha teve facilitada a exploração de petróleo pela BP que investiu mais de US$ 800 milhões de dólares. Junto com isso o governo britânico deu alguns milhões de dólares em ajuda ao desenvolvimento.

A proibição das exportações de armas foi levantada, e o centro administrativo do governo britânico, Whitehall, realizou negócios no valor de £ 350 milhões de libras em armamento britânico para Líbia, incluindo bombas de gás lacrimogêneo, metralhadoras, canhões de água, munição de controle de multidões, tanques Centurion e veículos para transporte de tropa Saladin e Ferret.

Além do equipamento militar as tropas de Kadafi, particularmente a Brigada Kamis, com 9.000 membros, receberam treinamento na Inglaterra, principalmente pelas unidades da Special Air Service (SAS). Supostamente para salvaguardar a Líbia contra as ameaças extremistas. Tudo isso em troca de contratos de petróleo para a BP.

Formalmente um acordo sobre "cooperação na formação de unidades especializadas de militares, forças especiais e unidades de segurança de fronteira".[1] Justiça seja feita que os franceses na Argélia também realizaram exercícios conjuntos com a Brigada Khamis em dezembro de 2007. Para a Brigada Khamis foi fornecido equipamentos de comunicações da Grã-Bretanha, um negócio de US$ 165 milhões de dólares com a General Dynamics UK.

Os laços entre a Grã-Bretanha e Líbia foram crescentes nos últimos anos. Particularmente entre o Partido Trabalhista e a BP através de Blair e Brown no governo e Lord Browne, presidente-executivo da BP.

Saif Kadafi é muito amigo de Lord Mandelson, ex-Secretario de Estado britânico e de Nathaniel Philip Rothschild, da multimilionária família de banqueiros. Os três tiravam férias juntos na mansão isolada que os Rothschild tem em Corfu na Grécia.

Em 2007, Saif Kadafi se reuniu com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, em Trípoli, e negociou um negócio de armas, incluindo mísseis. Isso explica que além de bombardeiros Sukhoi Su-24, Tupolev Tu-22 e MiG-25, de fabricação soviética, a Líbia tem aviões Mirage e Dassault Falcon; mísseis terra-ar Crotale; e helicópteros Aerospatiale, da França.

A Itália forneceu a Trípoli mais de 120 aviões SIAI-Marchetti; os Estados Unidos, aviões de carga Lockheed C-130. As armas européias também incluem rifles belgas, obuses suecos e sistemas de defesa antiaérea Artemis, da Grécia. 

Em troca Saif al Islam, afirmou que seu pai financiou a campanha eleitoral de Nicolas Sarkozy, e por isso pediu ao governante europeu que devolva esse dinheiro porque ele "decepcionou" a população Líbia.

"A primeira coisa que peço a esse palhaço é que devolva o dinheiro aos líbios. Demos essa ajuda para que agisse em favor do povo líbio, mas ele nos decepcionou"[2].

Neste mesmo ano Sarkozy tentou vender instalações de energia nuclear ao regime líbio. Recebeu Kadafi em Paris, com todas as honras, e permitiu que montasse suas tendas no Palácio do Eliseu, residência oficial do presidente. O banco BNP Paribas francês ganhou a compra de 19% do Sahara Bank pela qual pagou € 145.000.000. Desde o final do mandato Blair recebe honorários da JP Morgan (2 milhões de dólares por ano), e da Zurich Information Security Center do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH) ($ 500 mil dólares por ano); todos com importantes negócios na Líbia, além de ser consultor da Líbia Investment Authority, o fundo soberano responsável pela riqueza petrolífera do país e de empresas petroleiras do Emirados Árabes Unidos (£ 1 milhão de Libras por ano).

Agora os governos da França e Inglaterra querem garantir seus patrimônios e seus investimentos na Líbia.

Aparentemente a Itália e Alemanha tem uma postura diferente e esperam mais cautelosamente a volta dos seus dividendos.

A Itália é a maior importadora do petróleo Líbio, em troca, os fundos líbios detém participações significativas no banco italiano UniCredit, no grupo de defesa e aeronáutica Finmeccanica e no Juventus Futebol Clube.

O volume das aplicações dos rendimentos provenientes da indústria do petróleo em fundos em bancos alemães era tão grande que estes, incluindo o Bundesbank, tiveram que congelar mais de 10 bilhões de euros em ativos da Líbia por causa da decisão da União Européia.

A Líbia é o terceiro fornecedor de petróleo bruto para Alemanha (fornece 11 por cento de sua demanda total) há décadas, e esta é o segundo comprador de petróleo da Líbia.

As empresas alemãs têm milhões investidos na Líbia. Logo após a capitulação de Kadafi em 2004, o então chanceler Gerhard Schroder, do Partido Social-Democrata, introduziu uma nova etapa de colaboração econômica.

São projetos de infra-estrutura como o da Siemens que esta envolvida na construção de um projeto de abastecimento de água, o "Great Man-Made River", ou da Bilfinger Berger, que constrói auto-estradas na Líbia e realiza a obra de engenharia em uma estação de energia de turbina a gás na cidade industrial de Zawia. Ou petróleo, onde a BASF, com sua subsidiária Wintershall, tem atuado nos campos de petróleo no deserto, com investimentos de $ 2 bilhões de dólares; e a subsidiária de petróleo e gás da Dea da Corporação Essen que trabalha na maior reserva de petróleo bruto detectada na África e é um dos mais importantes fornecedores de petróleo e gás para a Europa.

A Alemanha aumentou suas exportações para a Líbia em cerca de 20% em 2009.

Além disso, há os acordos militares. Entre 1965 e 1983, soldados da Líbia foram treinados pelas forças armadas federais alemãs, enquanto agentes da polícia Líbia participavam de cursos organizados pela Polícia Criminal Federal da Alemanha. Em 2008 uma empresa de segurança privada alemã estava instruindo centenas de oficiais líbios em segurança pessoal, combate próximo, colocação de minas, guerra urbana e como prender suspeitos.

Vale a pena lembrar que a Alemanha foi o primeiro governo ocidental que enviou a região seu Ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, tentando sufocar a rebelião no norte da África, em Tunis para garantir o então primeiro-ministro, Mohamed Ghannouchi e defender uma "transformação pacifica". Ghannouchi foi varrido pelo processo revolucionário.

O real motivo da intervenção militar imperialista não é derrubar Kadafi e sim garantir seus investimentos e lucros, se para isso tem que aceitar que Kadafi caia e que uma ala burguesa pró-imperialista de oposição assuma o governo, tudo bem, afinal “bussines are bussines”.

O Conselho de Segurança posa de democrata, mas sempre apoiaram as ditaduras mais sanguinárias do mundo. 

A revolução no norte da África - Outra preocupação do imperialismo além da Líbia, é que a revolução atravesse a fronteira para a Argélia.

Pais onde as manifestações esta crescesdo e onde a BP (British Petroleum), da Inglaterra, muito conhecida pelo desastre no Golfo do México, é a principal investidora em exploração e produção de Petróleo.

O empreendimento da BP envolve o desenvolvimento de sete campos de gás ao sul do Saara, distante 1.200 km ao sul da Argel, que está em operação desde 2004, nas províncias sedimentares da Argélia, Oeste de Ghadamis e Norte de Illizi basins.

Outros projetos da BP foram iniciados em 2007, no sudeste da bacia de Illizi.
Além disso, a BP pesquisa prospectos exploratórios nas províncias geológicas do país.

Isso sem entrar na discussão do pré-sal africano:
O Conselho de Segurança da ONU serve somente aos interesses econômicos das Big Oil do imperialismo.

Os países do Bric – Brasil, Rússia, Índia e China – e Alemanha agiram como Pilatos.

O controle do Mediterraneo - Sem dúvida nenhuma na guerra da Líbia não esta em jogo somente o destino deste país. Mas também o controle das reservas de petróleo do Norte da África, e da rota de transporte da Arábia Saudita para a Europa, que passa por Bahrein, Omã, Iêmen e Egito.

Para evitar o processo revolucionário o controle do imperialismo sob a região do Mar Mediterrâneo é essencial.

O mar Mediterrâneo é estrategicamente um dos mares mais importantes da história alcançando as costas dos três continentes.

Nicolas Sarkozy quer cumprir um papel de ponta neste processo. Em 2007 convidou os chefes de Estado dos 27 paises da União Européia e dos 17 países mediterrânicos para realizar uma conferência em Paris onde fosse lançada a União Mediterrânica.

Entre eles: Argélia, Egito, Israel, Jordânia, Mauritânia, Marrocos, Tunísia, Líbia, Líbano e Síria. Atualmente a maioria dos paises envolvidos em processos revolucionários.

O líder líbio, Muammar Kadafi, no entanto, não aceitou, por suas ligações com o imperialismo britânico e italiano.

Por isso a França reconheceu o governo de Bengazi e “encabeçava” a “coalizão militar do Ocidente”.

Os Mirage e os Rafale estão na vanguarda do ataque a Líbia. Inclusive nas mãos do Qatar que enviou quatro caças Mirage 2000-5.

Atrás deles estão os Estados Unidos que também participa do “Odyssey Dawn” com o Comando África (AFRICOM), e a  Sexta Tropa, estacionada em Nápoles, Itália. Eles mantém uma rede de bases na Tunísia, Marrocos e Argélia para cobrir toda região.

Seu plano é posicionar tropas no Egito e na Tunísia junto aos mais ricos campos petrolíferos. Isso é coordenar manobras com militares egípcios e tunisianos, para mante-los sob sua disciplina e paralisar as revoluções egípcia e tunisiana.

Por isso a pior coisa que pode acontecer ao levantamento revolucionário que sacode o mundo árabe é a intervenção dos imperialista na Líbia. 

Dalton Santos e Américo Gomes do ILAESE para a convenção da chapa do Sindicato dos petroleiro e petroquímicos de Alagoas e Sergipe.

[1] “co-operation in the training of specialised military units, special forces and border security units”
[2] em entrevista exclusiva concedida à rede televisiva Euronews

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