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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Trabalhador dos Correios avalia greve e decisão do TST na histórica greve de 28 dias

Para o membro da FNTC (Frente Nacional dos Trabalhadores dos Correios), Geraldo Rodrigues, o Geraldinho, da oposição à maioria da Fentect, a proposta do TST, lamentavelmente, se limitou à retomar a primeira proposta da empresa, realizada na primeira audiência.

De acordo com Geraldinho, que acompanhou o julgamento, o sentimento da base da categoria é de muita revolta. “Foi a primeira vez na história que a ECT determinou o corte nos salários de grevistas. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, chegou a comparar na imprensa a greve com férias, o que nos deixou indignados”, disse.

Nesta quinta-feira acontecem as assembléias da categoria em diversos estados, onde decidem sobre a decisão da justiça numa mobilização que já é considerada histórica dos trabalhadores dos Correios.

Geraldo dá entrevista para o site da CSP-Conlutas.

Qual a importância dessa greve para a categoria?
GR – Essa é uma greve histórica. Foram 28 dias, com um movimento firme, coeso, os trabalhadores estavam decididos a lutar pelo o que queriam. Estavam tão decididos que num determinado momento atropelaram a direção majoritária da Fentect (PT/CUT e PCdoB/CTB) em todo o país. Foi no dia 4 de outubro, quando a maioria do Comando Nacional de Greve firmou acordo com a direção da empresa durante audiência de conciliação no TST abrindo mão dos dias parados. A Fentect orientou a aprovação da proposta nas assembleias do dia seguinte, mesmo assim todos os 35 sindicatos que compõem a Federação a rejeitaram nas assembléias. Principalmente neste momento vimos a força do movimento. Os trabalhadores dos Correios saem mais fortalecidos depois dessa luta.

A que você atribui a essa radicalização dos trabalhadores dos Correios?
GR - A imprensa e o próprio TST acusaram ‘grupos de esquerda’ supostamente infiltrados nas assembleias, pela não aprovação do acordo. O que determinou tal rebelião, porém, foi o sentimento de revolta de uma categoria com 110 mil trabalhadores que tem um salário base de R$ 807, e que ainda tem de conviver com jornadas extenuantes de trabalho, muitas vezes em situações perigosas. Foi isso o que fez essa greve ser forte. Além disso, os trabalhadores não queriam que se repetisse a experiência do acordo bianual de 2009 que, ao longo desses dois anos, impediu que tivéssemos campanha salarial. Esse acordo também contribuiu para os ataques à categoria como por exemplo a aprovação da MP 532 que abre o capital da empresa. Isso foi feito de maneira conscientemente pelo sindicato com o consentimento de Dilma.

Como foi a atuação da direção da ECT nesta greve?
GR – A empresa possui uma direção toda do PT, “partido dos trabalhadores”, sendo assim, a categoria acreditava que pudesse haver uma facilidade na negociação, porém, na realidade, ocorreu o oposto, a empresa cortou o ponto e recorreu ao TST. Também foi bastante truculenta, o que indignou a todos, principalmente porque é uma direção vinda do PT. Não querer negociar durante a greve, descontar os dias da forma como foi feito, só assistimos isso em épocas de ditadura e com empresas reconhecidamente truculentas no trato com os trabalhadores. No início, a empresa se recusava a conceder reajuste real, e aceitava apenas repor a inflação. Após as primeiras semanas de forte paralisação, o governo orientava conceder aumento real, mas só após 2012. Agora, mesmo a determinação rebaixada do TST o reajuste real já está contemplado.

E a atuação da maioria da direção do movimento, como foi?
GR – Em momentos importantes da greve a maioria da Fentect tentou jogar contra o movimento, mas foi atropelada. Mesmo quando saiu a decisão do TST, o secretário Geral da Fentect, José Rivaldo da Silva (Talibã), culpou os próprios trabalhadores pelo resultado do julgamento dizendo que foi uma decisão dos próprios trabalhadores deixar o caso ir a dissídio. Essa não é uma postura que a direção de uma categoria deveria ter?

A que você atribui esse endurecimento nas negociações dessa greve?
GR – Ao governo Dilma que, em nome do ajuste fiscal e o “combate à inflação”, orientou diretamente os ministros e diretores das estatais a não concederem reajuste real este ano e a endurecerem com os trabalhadores em greve. É esse o motivo pelo qual os bancários dos bancos públicos e os servidores batem de frente com uma intransigência e truculência pouco vistas antes. Esse é o real motivo para tanta dureza e truculência por parte da empresa na nossa greve. O governo Dilma já começou a jogar sobre as costas dos trabalhadores as consequências da crise econômica lá fora. Mesmo dizendo que a economia do país está crescendo. Se está crescendo queremos o que nos cabe, o nosso aumento e melhores condições de trabalho.

Nem empresa nem governo entraram no mérito da privatização da empresa…
Pois é, essa foi uma outra questão importante na nossa greve. A maioria da direção da Fentect, apesar da radicalização da base da categoria, tentou impedir que a greve batesse de frente com o governo. Eles não levaram a cabo a denúncia e a exigência para que Dilma vete a MP 532, medida que abre o capital dos Correios e inicia sua privatização. Essa bandeira foi levada somente pela FNTC e a CSP-Conlutas.

E depois da greve, quais as perspectivas da categoria?
Acho importante sairmos de cabeça erguida. Os milhares de trabalhadores dos Correios que protagonizaram uma das mais fortes greves dos últimos anos devem ser sentir orgulhosos. Nós fomos capazes de fazer isso, de lutar pelo o que nos é de direito. Acho que demos uma grande exemplo de luta e combatividade às demais categorias. Essa greve deve nos mostrar a força que temos e vamos continuar lutando. Queremos sim salários melhores, queremos sim melhores condições de trabalho e vamos lutar para a que a empresa continue sendo estatal, estaremos na luta contra a privatização.

www.cspconlutas.org.br

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